domingo, 10 de fevereiro de 2013

O que é afinal um filme noir?

Há sete elementos de um filme noir que Raymond Borde e Etienne Chauteton apontaram em Panorama du Film Americain (extraído e traduzido em Film Noir Reader, editado por Alain Silver e James Ursini). São eles:
  • um crime (a perspectiva dos criminosos, não da polícia);
  • uma visão invertida das tradicionais fontes de autoridade, tal como a corrupção policial (alianças e lealdades instáveis);
  • a “femme fatale” (fêmea fatal): a mulher que causa a ruína e/ou morte de um bom homem (violência bruta);
  • motivação e mudanças em complôs bizarros.

Paul Schrader observa a dificuldade em definir film noir em Film Comment (também reimpresso em Film Noir Reader), porém o limita em um período específico – de  The Maltese Falcon (1941) até Touch of Evil (1958). Ele argumenta que o noir é literalmente preto. Cenas noturnas, iluminação de alto contraste e sombras fazem parte do estilo noir. Além disso, o filme noir trabalha com tempo não-linear, disjuntivo.


Apesar destas duas tentativas de definir o filme noir sejam úteis, elas igualmente são limitadas. A diferença entre filme noir e policial, segundo Borde e Chaumeton, é muito pequena. Filmes como The Naked City e Crossfire foram estruturadas a partir de uma perspectiva do policial, ainda que não haja limites para a violência bruta e a perversão dos assassinatos em Crossfire. Borde e Chaumeton também negligenciam o elemento de transgressão moral/perversão que torna um noir verdadeiramente obscuro. Além disso, o argumento de Schrader que o gênero noir está morto é prematuro. Filmes recentes como Bound, Dark City e virtualmente qualquer coisa de John Dahl não são meramente homenagens ao filme noir, mas versões contemporâneas deste. A seção “Film Noir” do Internet Movie Database lista filmes de 1927 (The Underworld) até o presente. Uma estatística destes indica um pico primário de 1945 até 1951, e outro pico de 1951 até cerca de 1958 com um ressurgimento nos anos 1990.

Entretanto, Schrader está correto ao afirmar que definir o noir é quase impossível. Quantos elementos noir são necessários para se fazer um noir? Um? Três? Sete? Então, um noir pode ter apenas um único elemento, enquanto que outro filme que possua três não seja considerado um noir.

O que segue é uma outra tentativa de preencher a lacuna de definições do filme noir em complemento às definições dadas acima:

  • Perversão/transgressão moral. Um grande exemplo é William Bendix usando termos afetuosos como “docinho” e “querido” enquanto tortura Alan Ladd, em The Glass Key;
  • Destino. Freqüentemente, os protagonistas do noir se metem em encrenca por causa de traços de personalidade (Double Indemnity e Criss Cross) ou circunstâncias além do seu controle (Detour).
  • Traição/Ilusão. Todas as relações humanas estão sob risco no mundo noir – a relação entre cônjuges (Pitfall, Woman in the Window), entre patrões e empregados (Phantom Lady), entre clientes e investigadores particulares (The Maltese Falcon, The Big Sleep), entre amantes (Criss Cross) e mesmo entre pais e filhos (Mildred Pierce). Toda relação presumidamente baseada na verdade e mesmo no amor tem o potencial de se transformar em traição por dinheiro ou sexo, ou ambos.
Fonte: http://www.scoretrack.net/filmnoir.html